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Concerto a ceu aberto: Para solos de ave

by Manoel de Barros

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Indrodução a um caderno de apontamentos

Meu avô ainda não estava morando na árvore.
Se arrastava sobre um couro encruado no assoalho da sala.
O vidro do olho de meu avô não virava mais e nem reverberava.
Uma parte estava com oco e outra com arame.
Quando arrancaram das mãos do Tenente Cunha e Cruz a bandeira do Brasil, com a retomada de Corumbá, na Guerra do Paraguai, meu avô escorregou pelo couro com sua pouca força, pegou do Gramofone, que estava na sala, e o escondeu no porão da casa.
Todos sabiam que o gramofone estava escondido no porão de casa, desde o episódio.
Durante anos e anos, poucos desceram mais àquele porão da casa, salvo uns morcegos frementes.
Em 1913, uma árvore começou a crescer no porão, por baixo do Gramofone. (os morcegos decerto levaram a semente.)
Um guri viu o caso e não contou pra ninguém.
Toda manhã ele ia regar aquele início de planta.
O início estava crescendo entrelaçado aos pedaços de ferro do Gramofone.
Dizem que as árvores crescem mais rápido de noite, quando menos são vistas, e o escuro do porão com certeza favorecia o crescer.
Com menos de dois anos, as primeiras folhas da árvore empurravam o teto do porão.
O menino começou a ficar preocupado.
O avô foi acordado de repente com os esforços da árvore para irromper no assoalho da sala.
Escutavam-se também uns barulhos de ferro-deviam ser partes do Gramofone que entorteavam.
No Pentecostes, a árvore e o Gramofone apareceram na sala. o avô ergueu a mão.
Depois apalpou aquele estrupício e pôde reconhecer, com os dedos, algumas reentrâncias do Gramofone.
A árvore frondara no salão. Meu avô subiu também, preso nas folhas e nas ferragens do Gramofone.
Pareceu-nos, a todos da família, que ele estava feliz.
Chegou a nos saudar com as mãos.
o pé direito da sala era de dois metros e a telha era vã.
Meu avô flutuava no espaço da sala entrelaçado aos galhos da árvore e segurando o seu Gramofone.
Todos olhavam para o alto na hora das refeições, e víamos o avô lá em cima, flutuando no espaço da sala com o rosto alegre de quem estava encetando uma viagem.
Tonava-se difícil para mim levar alimentos para o meu avô.
Eu tinha que trepar na árvore que agora começava a forçar o teto da sala.
Havia medo entre nós que as telhas ferissem de alguma forma meu avô-ou então que o sufocassem ente os galhos e o Gramofone.
Eu estaria com sete anos quando a árvore furou o telhado da sala e foi frondear no azul do céu. Meu avô agora estava bem, sorrindo de pura liberdade, pousado nas frondes da árvore, ao ar livre, com o seu Gramofone.
Eu tinha medo que meu avô ali pegasse um resfriado.
Tornou-se mais difícil levar comida pra ele. Algumas formigas e alguns pássaros roubavam arroz de seu prato.
Aqueles passarinhos pousavam do mesmo jeito, nos galhos e nos braços do meu avô. Todos ficavam admirados de ver o avô morando na árvore.
Aquele Gramofone, como eu imaginara, não deveria tocar mais música, pois que estava todo enferrujado e bosteado de arara.
Quatro dias depois de um novo Pentecostes, caiu sobre o assoalho da sala onde viviam os outros membros da família, um ovo!pluft e se quebrou.
Era um ovo de anhuma. (a anhuma é um pássaro grande, que muda de prosódia quando alguma chuva esta por vir.) De forma que quando a prosódia da anhuma mudava eu corria levar um agasalho pra o meu avô.
Aquela ave, a anhuma, depois nós descobrimos, fizera um ninho justamente no tubo do Gramofone. E por ali o ovo escapou e desceu (pelo tubo furado) e pluft se quebrou no assoalho da sala.
Meu avô percebeu o barulho do ovo que se quebrou lá embaixo.
Parte do olho dele estava com oco e parte com arame, como já disse.
doze dias antes iam carregando os trapos esgarçados do corpo do meu avô. Ele morreu nu.
Falam que meu avô, nos últimos anos, estava sofrendo do moral.
Por tudo que leio nesses apontamentos, pela ruptura de certas frases, fico em dúvida se esses escritos são meros delírios ônticos ou mera sedição de palavras.
Metade das frases não pude copiar por ilegíveis.
( )
  Adriana_Scarpin | Jun 12, 2018 |
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