Um livrinho fácil de ler, mas que soa sempre mais superficial do que eu gostaria e como que escrito às pressas. A introdução de Jean Tiblé não ajuda, fazendo o estilo da introdução-contra, que geralmente só funciona quando se trata de escritos mais estabelecidos e profusos. Não é exatamente uma crítica a um livro que já tem uma preocupação com acessibilidade, o que se espera numa obra assim. Mas sobre o conteúdo: sim, é importante pensar o populismo, qual seja, a estratégia (macro) política que envolve a construção ativa do povo, como noção e como conjunto social. Que isso pressupõe antagonismos sociais (excluídos vs statos quo) e um fundo no qual esses são desenhados (hegemonia), este último abrindo espaço para desestabilizações e lutas contra-hegemônicas, visando eventualmente estabelecer uma nova hegemonia (democrática radical contra a atual neoliberal, no caso do populismo de esquerda).

Pensando, não sei se estamos num interregnum, oportunidade em que a pós-democracia do esvaziamento dos antagonismos políticos abriria espaço para a construção de uma hegemonia que possa ser democraticamente agonística (e não antagonista, de oposição à oligarquia atual) e tornar o "nós" e o coletivo um valor que se impõe afetivamente sobre o individualismo consumista. Tampouco sei se os surtos democráticos atuais, ligados à explosões das causas minoritárias não acabam sendo absorvidos tais como aqueles das décadas de 60.

Sobre a edição. Por mais que eu fique animado com o fato da editora ser nova e a o livro ser bonito, além de trazer um livro recente comentado por aí (que eu não tenha gostado é incidental), devo dizer que a revisão dessa versão (2020) está bastante ruim, com mais de uma ocorrência de linhas repetidas. Há também uma questão menor de o texto das abas estar num tipo ilegível. ( )